Vivência no Sítio do Futuro

Quando pequenos, temos como uma das brincadeiras favoritas colher mato pra fazer comidinha. Estar sujo de terra é mais frequente do que estar limpo.
Quando pequenos, temos uma relação mais estreita com a natureza. Prestamos mais atenção ao que nos rodeia, seja um canto de um pássaro diferente, um pôr-do-sol em tons de degradê, o pisar em pequenas poças, o admirar-se com o movimento dos pequenos insetos. 
E então crescemos e perdemos o mato, o contato e o sentir. O mundo cão que nos rodeia nos ensina que sentimentos só devem ser demonstrados aos mais próximos (e olhe lá), jamais a desconhecidos. Ele nos veste uma armadura que cobre até nossos olhos. Quando foi a última vez que você admirou a lua? Quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez? Onde está aquela criança que se admira com as pequenas coisas do mundo? 

As palavras criadas pelo ser humano ainda não chegaram ao nível do significado do que vivi nesse carnaval, mas talvez algumas delas como: paz, reencontro, alegria genuína, aprendizado, encantamento, possam dar um norte do tanto que ainda sinto. 

Distante do glitter, da bagunça organizada, dos sorrisos largos e músicas chicletes, botei meu bloco na pista e me juntei a pessoas que estavam vibrando na mesma frequência, em busca de sossego, autoconhecimento e conhecimento das coisas da terra. O lugar: Miguel Calmon, mais precisamente o Sítio do Futuro. 

 Acordava todos os dias por volta das 06:30 sem esboçar qualquer reclamação, abria os olhos e já tinha um ritual de ir para a varanda olhar o paredão rochoso que também estava despertando. Depois fazíamos o Suryanamaskar (saudação ao Sol) e descíamos para o café. Os horários dedicados a alimentação eram um grande encontro. Quantos de nós não comíamos na mesa com outras pessoas e conversávamos sobre a vida, sem distrações com o mundo virtual ou engolidos por más notícias vindas da televisão? 

Durante o dia tínhamos atividades na agrofloresta, plantar, colher, admirar as formas naturais dos alimentos que só chegam em nossas casas bonitinhos por fora mas ordinários por dentro. Aprendemos a fazer tinta com a terra e eu já estou querendo pintar tudo que é lugar por onde passo! Aprendemos/resgatamos a voz interior, meditamos na beira do rio, fizemos trilha no Parque Estadual das Sete Passagens, tomamos banho de cachoeira, ouvimos a nós mesmos, ouvimos os outros e tudo que estava ao nosso redor, comemos o que colhíamos, aprendemos a agradecer pela comida que estava na mesa e a todas as pessoas que fizeram com que ela estivesse ali.



Naqueles dias éramos apenas nós, Victoria, Luciana, Vinicius, Joana, Cris, Léo, Luca, Thiago, Juliana, Aline, Graça, Lessi, Cézar, Débora e Emerson. Não éramos as nossas profissões, nossos hábitos urbanos, nossas casas e carros. Éramos entrega, dedicação, aprendizes e professores, almas leves e sorridentes. Com essas pessoas enxergar o futuro se torna algo mais bonito, não importa quem vai ser o próximo presidente, não importa qual é o próximo lançamento da Apple, o que vale mesmo nessa vida é como a vivemos e com quem escolhemos viver. 



À Débora e Emerson

Preferi dedicar um espaço maior para agradecer a essas dois seres de luz que conduzem tantas pessoas para um caminho de serviço a humanidade e a Mãe Terra.
Débora e Emerson são a prova de que os opostos se atraem. Tão diferentes no jeito de ser e pensar, mas tão diferentes que no final das contas são iguais porque querem as mesmas coisas. Um diz que é terra e o outro diz que é água. Ele é ligado no 220V, acelerado, enquanto ela é ligada no tempo de Deus, das plantas. E essa combinação encanta e acolhe aqueles que têm a sorte de estarem por perto. E meu Deus! Quanta sorte eu tenho de ter os dois no caminho.

Talvez seja coisa de outras vidas, de almas que já foram próximas em outras encarnações. Talvez seja porque eles são grandes inspirações, ou por simplesmente serem tão entregues em tudo que se propõem a fazer. 

Gratidão também é muito pouco diante do que eu sinto por vocês. É amor, carinho, admiração. Obrigada por todos os ensinamentos, por me ajudar a entender o meu propósito, por fazer do mundo um lugar lindo. Vocês são incríveis! 

O Sítio do Futuro, a Escola de Sustentabilidade Integral e o Brechó Eco Solidário são exemplos de que a gente começa mudando o mundo dentro da gente e do que está ao nosso redor. Que sorte (mais uma vez) contribuir com vocês nessa mudança. 



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