Minha história
Rio de Janeiro, 15 de junho de 1992
Nasce no Hospital Casa de Portugal, às 08:20 da manhã de uma Segunda-feira, Victoria Conceição Gomes Leão de Albuquerque. Geminiana, gênio difícil e ao mesmo tempo dócil, personalidade forte, temperamento que só a mãe aguenta, filha de nordestinos. Estaria tudo certo até este último item. Quem mandou nascer em mais uma segunda-feira, provavelmente de temperatura amena pelos ventos de junho, no Rio de Janeiro? O São João no Nordeste já estava começando, o milho já estava colhido, as roupas das quadrilhas estavam prontas e os passos cansativamente repetidos já estavam nas ponta dos pés, o pé de serra já estava ensaiado, a sanfona, o triângulo e a zabumba estavam ávidos para brilharem em conjunto e individualmente, os meninos já estavam soltando fogos, as meninas já haviam engomado o vestido para a grande noite.
O que sinto pelo Rio de Janeiro é estranho, dói e ao mesmo tempo é vergonhoso (para mim mesma). É estranho não ter apego pelo seu local de nascimento, é estranho pra mim toda vez que perguntam "Onde você nasceu?" e eu fico confusa, não sei se digo Rio, Aliança ou Salvador.
Minha mãe, pernambucana, meu pai, baiano, saíram corajosamente de suas cidades, que dificilmente estavam traçadas no mapa do Brasil da época, para viverem uma vida diferente do que seus conterrâneos estavam sujeitos. Eles foram senhores de seus destinos, e o destino fez o favor de os unirem na mesma rua, romanticamente dividindo o mesmo sol e lua. A partir de então, devido à questões complicadas, Dona Maria bota sua filha de 6 meses embaixo do braço e se manda pra Aliança, onde estava sua família que receberia essa menina como um presente. E foi com muito amor, muito mesmo, que ela cresceu, apesar de estar longe do pai. Com 5 anos, é levada de volta para o Rio, dentro de um Itapemirim durante 2 dias de viagem e sem entender bulhufas do que estava acontecendo. E então ela cresce um pouquinho mais, passa a falar carioquês, faz amiguinhos e visita os parentes paraíbas* todo final de ano. Até que novamente, aos 14, seus pais decidem morar em Salvador, e a vida dessa pequena nômade muda mais uma vez. São outros ares, novos horizontes a serem desbravados, caminhos tortuosos mas também prazerosos, se encanta por tudo que é a Bahia, o que representa. E pra variar passa a amar a história de um lugar esquecido, enxerga a beleza onde a maioria vê sofrimento.
De fato, eu queria ter nascido em qualquer lugar do Nordeste, mas acho que o Nordeste escolheu nascer em mim. Não basta a gente ter a certidão de nascimento, é um papel, mais uma convenção social, o que importa é como a gente se reconhece e como a gente quer que nos reconheçam, ainda que isso cause confusão. O Rio que me desculpe, mas já tem muita gente no mundo pra defendê-lo, amá-lo e levar seu nome pra frente. Deixa que eu carrego Aliança, a Terra do Maracatu, e Salvador, Bahia, pra onde eu for, com muito orgulho.
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