O Natal da gente


Exatamente no dia que eu sento para escrever algo sobre o Natal – e suas dissonâncias – sou surpreendida com a propaganda mais linda do mundo! Sim, em 21 anos de existência nunca havia chorado tanto com uma peça publicitária, sem exageros.

A cultura popular tem esse poder sobre mim. Desde pequena convivo nesse meio, pois morava em Aliança – Pernambuco – onde nasceu o Maracatu de Baque Solto (ou Maracatu Rural). Por vezes, era tirada das minhas ocupações de criança pelo “tengo tengo” dos Caboclos quando  passavam na rua, corria para a porta para admirá-los mais de perto e me deslumbrar com suas cores. Desde aquele tempo, me arrepiava com o fervor das pessoas envolvidas em apresentações culturais, e não posso deixar de citar, que vibrava e me enchia de orgulho quando via meu avô – Maestro Zé Leão – tocar junto à banda quando dos festejos na cidade.

Depois que meu avô se foi, o Natal tomou outro sentido pra mim, não sei se pelo senso crítico que desenvolvi desde então. É certo que esses festejos em certos momentos me causam tristeza, por não ter aquela figura “avôterna” para abraçar à meia noite do dia 25. Pra completar, a Sociedade Musical 15 de Agosto, passa na nossa porta para prestar homenagens a alguém que teve sua vida dedicada a música e a banda.

 Em outros momentos, sinto repulsa por esse sentimento de hipocrisia que começa a ser pregado no meado de novembro. Compras, presente e capitalismo são palavras-chave  para entender a época. Os pais se sentem obrigados pela mídia, a comprarem o mais novo produto tecnológico que inibe a criança a buscar formas de interação com as demais, se afundando mais ainda naquele mundinho de /https. Sendo que em muitos casos, as parcelas do último lançamento ainda estão sendo pagas.

Prega-se no Natal que as pessoas devem perdoar umas as outras, que devem deixar de lado as mentiras, a inveja, a ganância e se esforçarem para sorrirem e acenarem para a festa de fim de ano da empresa, parecendo o mais cordiais que puderem. Ótimo seria que valores como: respeito, verdade e educação fossem pregados durante os 365 dias do ano, e não apenas em algumas horas.

Voltando ao viés cultural – se é que nunca saí dele- muito me admira sermos um país Tropical, de fortes influências Indígenas e Africanas e celebrarmos o Natal de acordo com o “American way of life”. Nosso Papai Noel deveria  ter, no mínimo,  a cor da pele de um Caboclo, ao invés de usar aquelas roupas típicas de regiões com neve, usar uma bata com estampas étnicas. E ainda, no lugar do gorro, deveria usar chapéu de palha e trocar as botas por um par de sandálias de couro. Mudaria sem pestanejar, toda aquela ornamentação de lugares frios por uma decoração tipicamente brasileira. Os Pinheiros seriam substituídos por Palmeiras ou Coqueiros, e as Henas que me desculpem, mas os jegues que deveriam puxar a carrocinha, pois imagino que um Papai Noel brasileiro não deva ser tão pesado como um Ianque.

O vídeo, só fez reafirmar uma das poucas certezas que tenho nessa vida: é de pessoas simples que o mundo precisa. São nesses homens e mulheres que têm as mãos calejadas que eu acredito, são nessas crianças que os olhos brilham ao verem uma apresentação cultural popular, que eu deposito minha fé num futuro melhor. São os acordes da música que me fazem crer que esse mundo ainda tem jeito. E no dia que esses elementos ocuparem seu devido espaço, pode ter certeza, o Papai Noel Tupiniquim há de vigorar! 

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